Calou-se a sanfona de Dominguinhos

“O candeeiro se apagou. O sanfoneiro cochilou. A sanfona não parou e o forró continuou.”



            Foi com essa música que fui dormir ontem a lembrar, assim que soube da morte do talentoso e herdeiro cultural do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, compositor de “Forró no Escuro”. Foi com pesar que o dia acabou ontem com o adeus a Dominguinhos.
            José Domingos de Moraes, natural de Garanhuns, interior de Pernambuco – cidade que celebrou o Festival de Inverno recentemente, e com muito louvor, diga-se de passagem -, cantor, compositor e instrumentista, amante dos ritmos e das influências musicais, como a Bossa Nova e o Jazz, que o ajudaram a compor sua arte, o seu baião, seu xote, seu forró. Pai de 2 filhos e amigo de suas três companheiras, de vida e de arte.
Luiz Gonzaga e Dominguinhos (Foto: Divulgação)
Ao longo dos seus 72 anos, dedicados boa parte à música, começou sua carreira ainda moleque ao lado dos seus dois irmãos, que tinha a rua como o seu palco. Aos 13 anos foi para o Rio de Janeiro a convite de Luiz Gonzaga e assim foi se consolidando na arte do forró.
Era conhecido justamente pelo seu poder de perpassar por várias nuances da música, conseguindo deixar sua marca registrada onde passasse. E foi nesse caminhar que Lucy Alves e Clã Brasil, Elba Ramalho, Fagner, Nando Cordel, Waldonys, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Toquinho passaram a ser não só companheiros de arte, mas cúmplices da vida. Recentemente, a Rede Globo, através do São João do Nordeste fez uma linda homenagem à sua trajetória na música e trouxe algum desses amigos tão influentes no seu caminhar.
Ganhador de Grammy Latino, Prêmio Tim de Música Brasileira e Prêmio Shell de Música, deixou em seu legado não apenas isso, mas o seu amor pelo Nordeste, por essa cultura rica que fazia questão de propagar por onde passasse e, principalmente, em suas composições o amor pelo amor, que está tão bem dito em uma de suas canções que mais gosto; “Eu só quero um xodó”, composição em parceria com a sua ex-esposa, Anastácia.

“Que falta eu sinto de um bem. Que falta me faz um xodó. Mas como eu não tenho ninguém. Eu levo a vida assim tão só. Eu só quero um amor. Que acabe o meu sofrer. Um xodó pra mim, do meu jeito assim, que alegre o meu viver.”


Esse vídeo é bem especial. Ele canta ao lado de sua filha Liv Moraes e do seu amigo Waldonys.



Dominguinhos (Foto: Divulgação)


A certeza que temos é que sua sanfona se calou, mas a sua música se perpetuará para os filhos dos meus filhos, dos meus netos, dos seus filhos e dos seus netos. É a nossa história, é nossa música, é nossa cultura.

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