“Mercedes”, mais novo espetáculo da Galharufas Cia de Teatro, estreia em João Pessoa

           
"Mercedes" (Foto: Paulo Vieira)
     Com uma proposta de trazer à cena as mais variadas linguagens cênicas sob o eixo da trilha sonora, calcada no teatro contemporâneo, “Mercedes” é o mais novo espetáculo da Galharufas Companhia de Teatro, com texto e direção do dramaturgo Paulo Vieira. A capital paraibana poderá apreciar esta história, que tem como pano de fundo a Ditadura Militar no Brasil, a partir desta sexta-feira, dia 31 de janeiro, e fica em cartaz até o dia 16 de fevereiro, com sessões nas sextas, às 20h, e sábados e domingos, às 19h e 21h, no Teatro Lima Penante. Os ingressos estão sendo vendidos no local, ao preço de R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Os estudantes do ensino público estadual, assim como aposentados e servidores públicos do Estado, possuem gratuidade no espetáculo. Aos domingos, os estudantes do Curso de Teatro, da Universidade Federal da Paraíba, possuem entrada franca.
            O texto coloca os cinco atores em cena para cantarem e dançarem, numa perspectiva de criação aleatória de uma personagem, assim como de suas ações e o reflexo das mesmas no todo, num agradável estranhamento. “Mercedes” e sua casualidade calcada no teatro randômico, é um jogo de dados que remete à urbanidade e às relações de exploração do homem pelo homem, como consequência das condições socialmente dadas, recorrendo a fatos da época da Ditadura Militar no Brasil, período conhecido como “Anos de chumbo”.
            Nesse espetáculo não encontraremos um recorte histórico e nem amarras de juízo de valor sobre Os Anos de Chumbo, mas sim, a possibilidade (ou inúmeras possibilidades) de construção de um novo olhar sobre este período negro da história do Brasil.

Como nasceu o texto

Paulo Vieira (Foto: Assessoria)
Paulo Vieira, em 1964, ano do golpe, tinha apenas seis anos. Não participou dos movimentos sociais da época, mas cresceu sob a sombra da Ditadura Militar. Mesmo criança, tinha significativa curiosidade acerca dos fatos que aconteciam ao seu redor, e o mesmo tempo relata que sentia o medo que os mais velhos sentiam, quando, por exemplo, alguém cantava "Caminhando e Cantando", canção do paraibano Geraldo Vandré, que somente anos depois ele conheceu o título verdadeiro – “Para não dizer que não falei das flores”.
O autor vivenciara várias situações de intolerância e confronto com as autoridades policiais, e afirma que “o medo era a tônica da vida comum” naquela época. E a sua passagem como revisor, ainda na adolescência, no Jornal A União, lhe possibilitava mais informações sobre esse momento.
Veio Collor como o prenúncio da salvação, quando na verdade era apenas mais um. Aí veio os “Caras Pintadas”, “Impeachment Collor” e “Lula”, quando sentia-se a esperança nos corações dos que acreditavam e até mesmo dos que não acreditavam. Mas, “o tempo volta, em sua trajetória elíptica. É a farsa que se desvenda, é o teatro das ilusões. É o sonho que morre, mas é a esperança que renasce e que alimenta a nossa alma de brasileiros. Mercedes é isso”, defende Paulo Vieira.

Um espetáculo que fala de maneira randômica sobre vidas e desejos. Mercedes é o encontro das personagens e as suas idiossincrasias no tempo que é circular, que é simultâneo, que é linear e que é, acima de tudo, humano, meramente humano, embalado pela canção “Mercedes Bens”, de Janis Joplin. Mercedes remete ao automóvel, mas remete igualmente para um sentimento de alteridade. Mercedes não é uma personagem, mas duas outras projetadas em espaço e tempo diferenciados.
Esse projeto foi idealizado pelo autor e diretor Paulo Vieira e a atriz Suzy Lopes. Juntos submeteram o projeto ao Edital FIC Augusto dos Anjos do Governo do Estado da Paraíba, através da SECULT – Secretaria de Estado da Cultura, sendo assim habilitados a executar a obra.

O Galharufas

É um grupo criado por Paulo Vieira em 1997, no ano em que estreou com o espetáculo Noite Escura, sob direção do seu fundador. Com este espetáculo o grupo ocupou a Capela de Santa Tereza, no Centro Histórico da capital paraibana - prédio com avançado processo de degradação. Utilizando o ambiente, o grupo montou um teatro preservando o seu riquíssimo acervo de imagens e afrescos do século XVII, e onde realizou uma longa temporada, somente interrompida após o Iphan solicitar o espaço a fim de recuperá-lo, o que efetivamente aconteceu, e hoje esta capela retomou o seu lugar sagrado para os Carmelitas.
Depois de deixar a Capela de Santa Tereza, o Galharufas refez o espetáculo para adaptá-lo para espaços alternativos, e assim viajou por pequenas cidades do interior e por diversas outras cidades-polos do país, apresentando-se em ruas, mercados e jardins de teatros, até a sua dissolução em 2001. O fim de Noite Escura significou a dispersão do elenco.
Retornando em 2003 com uma montagem da Cantora Careca de Ionesco, trazia em seu elenco Mayana Neiva, Fernanda Martinez e Gilson Azevedo. Com este espetáculo, o grupo ficou entre os 30 espetáculos selecionados no Projeto Criação Teatral Volkswagen, que teve naquele ano, 503 inscritos de todas as partes do Brasil.

Ficha Técnica


Texto e direção: Paulo Vieira
Assistente de direção: Suzy Lopes
Elenco: Suzy Lopes, Nyka Barros, Jorge Felix, Eulina Barbosa e Bárbara Hellen.
Preparação corporal: Nyka Barros
Preparação vocal: Jorge Felix
Trilha sonora: Didier Guigue
Músico: Luã Brito (guitarrista)*



*Esse instrumento foi escolhido para remeter às manifestações nas ruas em 1967, a “Passeata contra a guitarra elétrica”, iniciado pelo músicos que defendiam a MPB e os instrumentos inerentes à música do país, como o violão, por exemplo. 

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